domingo, 5 de abril de 2009

Por uma interpretação alternativa de slumdog millionaire


Tenho uma interpretação alternativa para slumdog millionaire. Para mim o personagem principal mente!! Ao menos em partes. Antes alguns comentários gerais. Tenho a nitída impressão que está se criando, ou melhor, estão criaindo uma nova tendência de representação do terceiro mundo (essa nomenclatura é tosca mas é menos tosca do que países subdesenvolvidos) no cinema. Algo muito menos grosseiro e caricatural do que coisas do nipe de O orfeu do carnaval, ou, ao menos, melhor intencionadas. Slumdog millionaire é o mais novo exemplo disso. Cada qual resolve as coisas de sua maneira, Diamante de Sangue não dá voz aos africanos (e a cena final é absurdamente representativa da proposta imperialista do filme), em o Jardineiro Fiel eles são coadjuvantes... Os pontos básicos estão todos lá. Utilização de atores "locais" ou "nativos" na maior tradição Pixote, (embora nesse caso tratem-se de atores profissionais, e que atores!!!), narrativa em primeira pessoa cruenta, vilão extremamente malvado (e isso acho que está mais por conta da narração em primeira pessoa do que por desejo do diretor, ao menos no caso de Cidade de Deus e Slumdog), fotografia heroicizante, que a meu ver dá às imagens uma beleza meio Sebastião Salgado (talvez quem tenha inaugurado isso seja o fotógrafo de Traffic) e montagem das cenas no estilo videoclipe (impressionante como um enquadramento não dura mais de 3 segundos). E angulos inesperados, que muito me agradam só pra registrar. Interessante notar como Danny Boyle para falar de jovens sem esperanças em lugares distintos do globo recorre a um universocompletamente diferente. Em Trainspoitting, por exemplo, o filme ganha uma atmosfera angustiante. Se para Renton as porradas que a vida lhe davam tinham como escape as drogas, que se tornaram um novo problema, Jamal não tem a mesma opção, ele segue em frente. Parece não se abalar com nada. Tudo bem que culturas diferentes proporcionam ao individuo certos elementos para lhe dar com as adversidades da vida (e sempre me lembro do artigo de E.P. Thompson sobre a economia moral revisitada)... Mas porque ele age de forma tão passiva? Aceita tudo de bom grado, a narrativa leva o oficial que interroga-o a crer que é um predestinado, e essa era a hora da estrela. Pensando que o filme tem um narrador, na verdade dois, mas o segundo só aparece o final e não compromete o que vou defender, a questão a se fazer é porque cargas d'gua as pessoas acham que ele não está mentindo? Que está sempre sendo sincero? Tudo que temos acesso são os discuros do personagen intercalados com cenas que estão sendo produzidas por sua narrativa, é a sua memória, produzindo um discurso verossímil do passado... os flashbacks são suas memórias reconstruídas, com distorções, sejam espontâneas ou premeditadas... Tal qual o fizeram Brás Cubas e Bentinho. E nesse ponto o filme tem um mérito, a meu ver, maior que o de Cidade de Deus. Se Buscapé, o narrador, já não é mais Buscapé quando narra história, é um fotógrafo de classe média que saiu da favela e de uma forma ou de outra possui toda uma vivencia que o faz reinterpretar a experiência de outrora, tal qual Dom Casmurro o faz (nesse caso prmeditadamente) com Bentinho, Jamal é ainda o Jamal que está descrevendo ao narrador, ou melhor, está brigando para deixar de se-lo.

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