sábado, 4 de outubro de 2008

Sobre a representação II



Há aproximadamente um ano e meio que estou esperando para ver Blindness. Nem tinham começado as filmagens e já estava ansioso. Acompanhar o diário de bordo da construção do filme através do Blog do diretor só fez aumentar minha espectativa. E eis que enfim cá estou após finalmente ve-lô, com algumas semanas de atraso diga-se de passagem. Resultado: Meirelles não decepciona. Nãoa mim pelo menos que aprecio seu trabalho desde "Domésticas". Diferentemente do que muitos criticos, alguns costumeiramente sóbrios, tem dito por aí, considero o filme muito bom. E há vários méritos em sua execução que merecem ser ressaltados. Em primeiro lugar, consegue adaptar a obra do famoso escritor potuguês à altura, aliás Meirelles parece estar se especializando em adaptações uma vez que as executa cada vez melhor. Assim como no livro, mais interessante do que o que se conta é a forma como se conta. Apesar do cinema ser uma arte imagética há ainda muito espaço para imaginação, mais do que Saramago poderia supor, por exemplo. Meirelles leva esse desafio ao limite. A busca incessante por um angulo diferente desde cena complexas como o polêmico estupro à cenas simples como a sequência inicial em que a esposa do médico prepara o café, causam estranhamenho no espectador. Estranhamento esse essencial para o desenrolar do filme. O espectador é a todo momento tiradod e seu ponto de conforto, quando pensamos estar acostumados com algo ele nos supreeende, ao ponto que no final estamos tão cegos quanto as personagens. Os jogos que estabelece com as imagens convidam nos a entrar no mundo desconhecido da cegueira branca, e mais ainda, leva a reflecção sobre a condição humana. Filmado em grande parte em São Paulo, embora o filme não necessariamente se passe em São Paulo é interessante pensar como ela difere, por exemplo, da São Paulo de "Linha de Passe". Se neste a cidade tem papel fundamental naquelea somos jogados para dentro de nós mesmos como numa boa música de Raiohead. Não existem mocinhos ou bandidos, apenas seres humanos em seu limite que percebem, há um custo muito alto, que o essencial da vida, para parafrasear o Karnak, e da experiência humana nos passa desapercebido cotidianamente. Embora Blindness seja um filme que trata metaforicamente e utiliza como pano de fundo uma situação ficticío fala, pois, sobre a "realidade", seja lá o que ela signifique para o leitor. Afinal, qualquer tentativa de representação flerta com esta, seja como interpretação, critica ou negação.

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